2018 chegou ao fim e esse ano
resolvi fazer uma lista de melhores aqui para o blog, como eu sou uma pessoa
que compra poucas revistas por ano, não tem como eu fazer um top 10. Assim, se
você está vendo essa lista e está pensando em comentar “Maciel o quadrinho tal
ficou de fora?” A resposta é simples: Eu não li! Essa lista é apenas dos
quadrinhos que eu li e não tem a pretensão de colocar ela acima das diversas
publicações das inúmeras editoras no Brasil e os trabalhos dos artistas
independentes. Na minha cabeça lista dos melhores do ano deve ser feita com os
quadrinhos lançados no respectivo ano. Para eu fechar num número redondinho, eu
apresento cinco menções honrosas, quadrinhos republicados esse ano ou que foram
publicados em anos anteriores mas que eu adquiri esse ano. Por fim, a minha
lista dos cinco melhores quadrinhos publicados esse ano. O mais legal foi o
fato da lista contar com quadrinho brasileiro, europeu, quadrinho de herói e
sem herói. Sempre que possível eu vou trazer alguma resenha ou deixar o link da
minha mini-resenha no Instagram, aproveito pra comentar o porquê de cada uma
ter sido escolhida.
Menções Honrosas 2018
5) Alias – Jessica Jones é uma
detetive que por acaso tem super poderes, ela os odeia e despreza uniformes. Jessica
gosta mesmo é de uma birita e sexo casual, porém ela se dedica mesmo no seu
ofício de investigadora particular. Esse ano, a Panini trouxe esse clássico
publicado pelo selo adulto Max da Marvel. O selo está extinto e Jessica hoje é
uma mãe de família casada com Luke Cage, quer dizer aquilo que a fazia ser uma
personagem realmente atípica foi pro saco pra se tornar algo vendável para
outras mídias, mesmo que a Netflix tenha feito um seriado com a essência da
Jessica Jones, preferiu-se amenizar o lado anti-heroína da personagem.
4) Castanha do Pará – Essa hq foi
a primeira vencedora na categoria quadrinhos no Prêmio Jabuti de literatura.
Gidalti Junior nos remete ao dia a dia no Mercado Modelo em Belém na pele de
Castanha, uma criança que se vira pra sobreviver nem sempre com atitudes
moralmente aceitas. O autor utiliza de aquarelas e a sua arte é tão bela e
detalhada que o gibi levou três anos pra ficar pronto. Um outro destaque foi o
fato de um painel em homenagem a obra ter sido CENSURADO num shopping em Belém. Isso foi um ato
isolado ou um prenúncio para os próximos anos?
3) Hellblazer – Hábitos Perigosos
– A Editora Panini está lançando os encadernados da revista de John Constantine
pelo selo Vertigo da DC em ordem cronológica, eu como não nasci ontem estou
pegando (se houver um aumento de 40%, eu paro minha coleção por aqui). Esse encadernado
é escrito por Garth Ennis e é uma das melhores coisas já lançadas com o
personagem. Aqui John Constantine recebe a notícia de que está com câncer de
pulmão e tem que se virar com o diabo pra poder sobreviver, esse arco serviu de
base para o roteiro do filme meia boca do personagem. John Constantine é o meu personagem favorito
da DC aí a parte emocional influencia na sua colocação na lista.
2) A Infância do Brasil – José Aguiar
faz um livro espetacular sobre como é ser criança em diferentes épocas no nosso
país. Em vez de capítulos, o livro se divide em séculos, em cada século temos
uma criança distante dos privilégios dos descendentes de portugueses, ser filho
de índios ou de negros é uma sina que vai marcar a sua vida com muita
violência. Como crescer num ambiente tendo que literalmente lutar pela sua
sobrevivência e ser cobrado a ter uma educação digna de Casa Grande? A leitura
despertou em mim uma tristeza e revolta e me fez refletir sobre a minha vida.
1) A Saga do Monstro do Pântano –
Alan Moore não tem como ser esquecido, né? A Panini republicou esse clássico do
Mago Supremo que levou ao surgimento do selo Vertido da DC. Na década de 80, o
Monstro do Pântano era uma série de terror mas que ocorria dentro do universo
DC com heróis e tudo. Ele revolucionou os quadrinhos de diversas formas com
essa obra e nela ele trouxe à luz John Constantine, um personagem tão complexo
que teve boas histórias aqui e no selo Vertigo. Eu gosto de comparar John
Constantine e Jessica Jones quanto a sua complexidade, decisões editoriais que
os condicionam a serem mais do mesmo apenas apagam com o personagem.
Constantine é apenas um personagem coadjuvante da revista do Monstro do
Pântano, Alan Moore além de terror, consegue trazer nesse revista crítica
social e conhecimentos místicos que conquistaram milhares de fãs.
Top Cinco de 2018 (Aquilo que
realmente importa)
5) Jeremias Pele – o selo Graphic
MSP da Editora Panini ousou em trazer um
personagem com pouco destaque e trazendo um assunto bem tocante: racismo. Um
racismo que as pessoas de pele branca mal sabia que existia: o racismo velado,
aquele que é feito “sem nenhuma intenção” mas machuca bastante. Rafael Calça e
Jeferson Costa trouxeram essa obra que poderia ter ido mas fundo na dor. Eu
acho que por ser um selo adulto as Graphic MSP poderiam ser mais ousada, não
necessariamente com palavrões ou violência, mas permitir que os autores possam
tocar mais fundo no assunto que eles querem sem se preocupar tanto com uma
criança que vá ler.
4) O Idiota – esse ano eu li
tanto o livro em prosa quanto o quadrinho e por isso eu deixei essa adaptação
para a lista de melhores. O Idiota é um livro que trata de diversos assuntos e
grande parte dos acontecimentos ocorre nos longos diálogos, o livro não tem
muito movimento. André Diniz resolve fazer justamente o contrário, ele faz um
quadrinho praticamente sem diálogos e, por isso, cheio de ação, ele se foca no
romance e no triângulo amoroso entre os personagens. Se isso não é impor
limites suficientes, Diniz tem um traço bem grosso e quadrado, o que poderia
ter deixado as imagens paradonas, mas que nada! Os recursos que Diniz para
oferecer dinamismo as cenas com os seu tipo de traço funciona muito bem. Ah,
não se esqueça que o quadrinho é em preto e branco. Se você já leu O Idiota,
leia também essa adaptação pois a experiência é beeemmmm diferente. O livro
saiu aqui pela Companhia das Letras.
3) Elfos 1 – Esse é um quadrinho
Europeu que foi publicado originalmente pela editora Soleil e a Mythos Editora
trouxe ao país. Cada edição original traz uma história completa que não tem
continuação, então você pode ler qualquer uma se quiser. No Brasil, a Mythos
encaderna duas edições francesas. No mundo em que as histórias ocorrem há
quatro raças de elfos: os elfos silvestres, os elfos azuis, os elfos brancos e
os meio elfos. Essa primeira edição traz uma história dos elfos azuis e uma dos
elfos silvestres. Elas são tão lindas de se vê nos seus detalhes quanto as
histórias são bem empolgantes.
2) Visão – Fazer história de
herói com um conteúdo mais aprofundado não é muito fácil encontrar na Marvel
atualmente, principalmente na triste fase Totalmente Diferente Nova Marvel. Tom
King não gosta de brincar e traz uma história de herói com crítica social,
detalhes sobre o passado e o presente desse membro dos Vingadores e ainda com
uma fabulosa reviravolta. De um início que parece uma propaganda de margarina
de família feliz, um cérebro eletrônico que faz análises lógicas da sociedade
pode chegar a algumas conclusões bem desagradáveis. Visão está no segundo lugar
por surpreender num meio que se propõe a apenas divertir.
1) Desenhados Um Para O Outro –
foi a minha melhor leitura lançada esse ano. A Companhia das Letras traz uma
antologia da obra de Robert Crumb e Aline Kominski desenhando juntos. A vida
conjugal não é um mar de rosas e é preciso muito amor pra manter duas pessoas
diferentes juntas, por isso, é importante que ambas tenham um tempo longe um do
outro. Pois é, o quadrinho é desenhado e escrito pelos dois (EM CADA
QUADRINHO), pra aumentar a dificuldade a temática é a vida privada e como um se
auto-esculacha e critica o outro, ambos têm estilos bem diferentes de desenhar
quanto de escrever. Assim Crumb desenha a si e ao cenário e escreve o seu
balão, Aline desenha a si e escreve o seu balão? Achou inusitado? O livro
acontece por décadas e mostra a Aline engravidando e sendo mãe de uma
garotinha. Essa garotinha cresce e acaba se desenhando e escrevendo o seu balão
na história. O livro não é recomendado pra ser lido todo numa sentada, tem horas
que o casal enche o saco, mas é só dar um tempo e retomar porque a leitura vale
a pena.
Cara que texto enorme! Se você
chegou até aqui é porque é um vencedor, parabéns! Vamos ver que caminhos a
crise editorial vai trilhar em 2019, se a Panini trouxer um aumento de 40% em
todos as suas publicações será um ano com poucos heróis e muita editora
pequena.
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